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PECAR É ERRAR O ALVO... - By Kátia Vanessa Tarantini Silvestri

Atualizado: 4 de ago. de 2021


Diz o apóstolo Paulo que “a lei torna o pecado abundante” (Romanos 6, 1), Nietzsche tira desse axioma a máxima para opor-se a moral cristã, pois toda moral que é um desprezo por si é, para esse filósofo, uma negação da vida e, portanto, uma escravidão. Daí moral dos escravos como leis e condutas impostas por uma lógica/linguagem que eleva as alturas e despreza o abaixamento. Problema de perspectiva. Eis que somente a arte pode nos salvar de tamanha desilusão.

Será que teremos de viver no pecado para então vivenciar a glória? Paulo já se indagava... Para Kierkegaard, esse raciocínio faz sentido. Teólogo antes de filósofo, Kierkegaard afirma três estágios ao pensar a existência, pois afirma que há várias opções disponíveis quando o assunto é o existir. A ele fica designado o papel de fundador do existencialismo. Tal existencialismo elenca como o grau mais elevado que um ser humano pode alcançar o estágio religioso. Mediante o que ele chama de saltos, o estágio religioso é conquistado deixando para trás o estético e ético. O inquietante na filosofia kierkegaardiana é que somente se chega ao estágio religioso pelo pecado. Mais precisamente, “a experiência religiosa por excelência é a do pecado”. Vejamos mais de perto esse raciocínio:

O homem que peca se afirma como um ser independente diante do criador. “Só posso ser eu mesmo pecando”, do contrário não sou ou sou a sombra de, a voz passiva – sem voz - a criatura.

Se o homem é livre, totalmente livre não pode haver um ser supremo. Só nos afirmamos como sujeitos inteligentes - que pensa, compreende e não um fantoche - ao compreendemos a condição de pecador – o que se afirma enquanto tal face a face com criador.

Hamartia, do grego, errar o alvo. A língua grega é a língua do novo testamento e o termo usado para designar pecado é hamartia.

Pecar é errar o alvo. É um desvio. Desvio de quê? É uma experiência inteligível a razão e não algo imanente. Criatura se afirma enquanto ser pensante, que compreende, responde. A relação próxima com Deus bane toda a moral estabelecida, pois o homem no estágio religioso não se submete a nenhuma regra geral.

Nesse sentido, lembremo-nos de Eclesiásticos (11.9), “o pecado é um ato livre e voluntário do homem, porque ele é um ser moral, dotado da capacidade de perceber o certo e o errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da sua vida”.

Compreender é diferente de não querer. Por isso que no Cristianismo Deus surge como aquele que instrui o homem que pecado é não querer o justo e não em não compreender o justo. Porque senão ignorar seria pecar.

Para sermos sujeitos responsáveis e respondentes devemos nos afirmar como seres de compreensão e escolha. Ao fazermos isso estamos desviando de um criador que subjuga, um tutor que decide por nós. Ao fazermos isso pecamos. O pecar é quando o objetivo não foi alcançado, o alvo se perdeu... pois a experiência do pecado é muito mais que a de um ato contrário à moral, é um ato de liberdade - afirmação da singularidade ética. Não erre seus alvos! Eis a máxima.


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