No seu primeiro ciclo de vida ela construiu. Não sabia ao certo o que estava fabricando, mas o fez, e o continuou a fazer por toda a sua vida. A artesã começou a criar...
No início do seu segundo ciclo de vida suas mãos estavam molhadas pela primeira vez. Se ela soubesse que suas mãos continuariam a se molhar teria abandonado sua primeira edificação? A artesã continuou a criar...
Ainda no seu segundo ciclo de existência, a vida levou três ferramentas da artesã, antes mesmo que ela as pudesse construir. Algumas ferramentas são a própria criação, enquanto se tornam o motivo da vida.
A artesã foi aos prantos, mas continuo a criar...
É imprescindível as mãos de uma artesã serem cobertas por calos, machucados e cortes. Afinal, a virtude das grandes obras é o fracasso, assim como muitas vezes a sua ruína. Entretanto, as cicatrizes da artesã residem no âmago da sua existência. Essas feridas impediriam a flor mais bonita de desabrochar, mas ela não. Ela não pode. A artesã continuou a criar...
Atualmente, a artesã tem duas ferramentas, por essas, sua vida é construída e dão forças para que ela continue a construir, mesmo com as mãos molhadas.
A artesã continuou a criar...
19 anos se passaram desde que suas mãos ficaram molhadas pela primeira vez. O primeiro e único edifício manuseado pela artesã nunca deixou que suas mãos ficassem secas. A alma dela a muito tempo não vive mais nesta criação.
A artesã continuou a criar...
Ela por todos esses anos criou dores, tristezas, traumas e cicatrizes, mas continuou a construir. A artesã não poderia deixar que suas duas ferramentas sofressem o mesmo. Por esse motivo ela criou felicidade, amor, carinho e proteção.
A artesã continuou a criar...
Hoje suas mãos estão trêmulas e molhadas novamente de lágrimas. Do seu rosto o sangue pinga. O edifício nunca deixou de ser agressor.
A mãe continua a lutar...
O terceiro ciclo da sua vida está para iniciar. Ela jamais deixará que
seus filhos sangrem.
A mãe nunca desistirá de ser uma artesã de felicidades...