O amor? By Jonathan Brandão

Por que está tão frio? O chão está úmido? Meus dedos estão ficando roxos, sinto meus lábios trincarem, meus dentes não param de ranger e o férreo toma gosto, meu rosto está gelado, estive chorando? Minha alma Sussurra palavras tão simplórias e serenas que chegam a ser aterrorizantes.

Meu corpo continua a sofrer com o frio sepulcral. Meu pulmão, o ar está pesado, gelado e o chão está ficando leve, sinto meu corpo todo pulsar, seria mais um efeito dessa escuridão gélida? Não, os Sussurros sabem. Eu sei. Estou morrendo, estou doente? Por quanto tempo? Por que tão frio?

Eu vejo uma luz, necessito dela. Não está longe, só alguns passos, suas canículas me atingem. Eu consigo. Só preciso me mover. Sussurros, de novo, – você vai sofrer, seja acolhido pelo frio, é apenas uma miragem longínqua. Cale-se! Eu preciso, não está longe, eu consigo, só preciso parar de tremer e seguir em frente.

Que estranho, por um instante meus pês ficaram quentes, foi um breve momento, agora, parecem molhados, mas não consigo senti-los, duros e gelados. Mas estou quase lá, as ondas de calor estão mais fortes, só preciso de mais um pouco. Me ponho de joelhos. Minhas mãos tocam o chão úmido. A dor? Cessou? Estou chegando.

Uma fogueira? Está quente, prazeroso. Os Sussurros cessaram? Eu... eu sinto meu coração, a vida voltando para meus membros, estou eufórico, extasiado. Por que continuo tremendo? Meu corpo está ficando quente, mas continua duro, não consigo me colocar de pé. As lágrimas voltam a escorrer? Por que? Mas a dor... ela passou.

A fogueira? Madeira, mas onde? Preciso manter a chama acessa. O frio, eu não o quero nunca mais, nunca, por favor... preciso de madeira, os Sussurros, sinto eles sangrarem a minha alma. Eu não vou suportar a escuridão outra vez. Preciso! Preciso!

Vejo sobre as labaredas que morrem a minha frente algo que eu possa queimar, mas... está no frio, longe. Por que? Eu não quero senti-lo novamente. A morte reside ali, eu quero viver...

A fogueira está ficando gelada, eu necessito me mover. Eu me arrasto, adentro a escuridão em busca do combustível da vida. Meus joelhos e minhas mãos sangram tempo o suficiente para aquecer meus membros e possibilitar que eu me mova, antes que o frio congele meu corpo, antes que a minha alma não tenha mais dor para lamentar.

Eu não acredito, eu consegui, voltei a fogueira. Alimento o fogo, em busca de aquecer o meu corpo, afastar as sombras, cessar os Sussurros e curar a alma. O fogo demorar a queimar, a madeira é muito grande? Eu necessito de mais chamas. Ainda sinto muita dor, preciso de mais calor.

Assopro, bato as mãos, agarro uma folha úmida do chão, uso todas as forças, todos os sonhos que me resta para fazer a madeira queimar mais forte. Eu necessito disso...