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Ecologizar - by Guilherme Lisboa

Atualizado: 9 de nov. de 2021

Ecologia, palavra grega que etimologicamente faz alusão ao conhecimento construído a partir da casa comum, popularmente chamado de planeta Terra, uma vez que derivada da junção dos vocábulos “oikos” o qual se traduz como casa e “logos” que significa saber.

Ao chegar em sua máxima “Penso, logo existo”, Descartes valoriza ao extremo a razão, e por sua vez instaura na lógica das relações uma perspectiva de dominação sobre aqueles que não possuem o mesmo tipo de racionalidade, outros seres vivos por exemplo, ou aqueles que a vivenciam de outra forma. Desse modo, o sujeito se constitui pela noção de auto-funcionalidade possuidor da natureza. “A noção de universo orgânico vivo e espiritual foi substituída pela noção de mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante da era moderna” assim como afirmado por Capra em seu livro A teia da vida (1996).

Contra esta visão hegemônica através de tons imanentes, Guattari conceitua a ecologia, em sua obra as Três ecologias (2012), contemplando e entrelaçando ética-estética-politicamente as esferas ambientais, sociais e mentais, as quais denominou de as três ecologias ou ecosofia, conceito este que desacorrenta dos paradigmas pseudocientífico, consolidando-se a partir das desterritorializações suaves, que fazem as conexões evoluírem processualmente, permitindo a criação de novas alternativas para a vida.

Ao se voltar para a ecosofia ambiental, o filósofo traz ao centro a temática dos territórios e de todos os seus componentes, estes que se caracterizam como cenários existenciais, que atualmente se encontram em crises, colapsos, desmatamentos e até mesmo em extinções. Levando esta realidade caótica em conta, o autor acrescenta que a responsabilidade para com o meio ambiente necessitaria também integrar um nível micro-singular e não apenas macro, alegando que a ecosofia ambiental deveria deixar de ser atrelada à imagem de uma pequena minoria e se expandir como vivências sensíveis, éticas e políticas no e do todo.

Quando se faz menção à ecosofia social, o cerne primordial se dá no ato de reconstruir e construir arranjos do ser-em-grupo, ou seja, produzir espaços híbridos e metamorfos de relações e agenciamentos, nos quais as experimentações múltiplas e infinitas são as protagonistas, ressaltando a importância do relacionar outro com a alteridade como potencializador ressignificante da existência social, consequentemente da individual.

Por fim, a ecosofia mental, convidam o sujeito a se colocar em um movimento-opositor-inventor-artístico frente às institucionalizações docilizantes estagnalizadoras da subjetividade, buscando antídotos no formato de conexões desejantes em devires rizomáticos e na viabilização existencial de linhas de fuga. Em palavras guattarianas a pessoa na ecosofia mental "será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o fantasma [inconsciente no sentido psicanalítico], com o tempo que passa, com os ‘mistérios’ da vida e da morte".

Contudo, esta forma de conceber a ecologia se opõem radicalmente com a ecologia capitalística que Leonardo Boff escancara e problematiza criticamente no seu escrito intitulado como: Sustentabilidade: o que é - o que não é (2012), esta que segundo o teólogo se pauta e defende em preceitos de funcionalidade e desenvolvimento, atribuindo ao meio-ambiente e seus personagens uma categoria de recurso, para a majestade superior, o ser humano, em sua maioria homem-branco-hetero-cis-burgues-lucido e não de totalidade em elo afetuosos, como defendido pela ecosofia guattariana.


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